Por: Lais Gomes
As relações entre Brasil e Estados Unidos têm uma longa história, marcada por altos e baixos, interesses convergentes e divergentes, além de momentos de cooperação e tensão. Com a recente eleição de Donald Trump para um novo mandato, a dinâmica entre as duas maiores economias do continente americano enfrenta novos desafios e oportunidades. A forma como esses países navegarão suas diferenças e explorarão interesses mútuos nos próximos anos será crucial para definir a trajetória de sua parceria.
Historicamente, o Brasil tem visto os Estados Unidos como um parceiro estratégico, especialmente no âmbito econômico. Em 2023, os Estados Unidos foram o segundo maior destino das exportações brasileiras e uma das principais fontes de investimento estrangeiro direto no Brasil. Produtos agrícolas, como soja e carne bovina, além de minério de ferro, figuram entre os principais itens exportados, enquanto o Brasil importa tecnologia, produtos farmacêuticos e combustíveis dos americanos. Essa relação, no entanto, não é imune a mudanças no cenário político.
Com a volta de Trump à Casa Branca, espera-se um retorno à sua abordagem de política externa marcada pelo pragmatismo, nacionalismo econômico e foco em negociações bilaterais. Durante seu primeiro mandato, Trump priorizou interesses econômicos americanos e, em muitos casos, adotou políticas protecionistas, como o aumento de tarifas sobre produtos importados. Para o Brasil, isso pode significar desafios em negociações comerciais e possíveis pressões por concessões em setores estratégicos. Um exemplo claro disso foi a exigência, em 2019, de quotas para o aço brasileiro em troca de manutenção de tarifas reduzidas.
Apesar das possíveis tensões, há também oportunidades. Trump sempre demonstrou interesse em aprofundar parcerias com governos que compartilhem valores políticos alinhados ou que se mostrem dispostos a colaborar em questões de segurança e economia. A atual política externa do governo brasileiro, dependendo de como for conduzida, pode se beneficiar de uma agenda pragmática e comercial que busque atrair investimentos americanos, principalmente em áreas como infraestrutura, energia renovável e tecnologia. O Brasil, por sua vez, tem a chance de consolidar sua posição como fornecedor confiável de produtos agrícolas e minerais, setores altamente demandados nos EUA.
No entanto, há obstáculos a serem superados. A preocupação americana com questões ambientais pode se intensificar. A política ambiental brasileira nos últimos anos gerou críticas internacionais, especialmente em relação ao desmatamento da Amazônia. Embora Trump tenha demonstrado pouco interesse em questões climáticas durante seu primeiro mandato, o contexto global mudou, e a pressão internacional por ações climáticas mais firmes está mais forte do que nunca. Empresas e consumidores americanos estão cada vez mais atentos à sustentabilidade, e o Brasil pode enfrentar barreiras não tarifárias caso não demonstre comprometimento em proteger o meio ambiente.
Outro ponto de atenção é a competição global. A China, maior parceiro comercial do Brasil, desempenha um papel estratégico na economia brasileira. Trump, conhecido por sua postura agressiva contra a influência chinesa, pode pressionar o Brasil a reduzir sua dependência do gigante asiático. Essa postura coloca o Brasil em uma posição delicada, obrigando-o a equilibrar interesses divergentes com seus dois principais parceiros comerciais.
No campo diplomático, a relação pessoal entre os líderes dos dois países será determinante. No passado, a afinidade ideológica entre Trump e Jair Bolsonaro facilitou uma aproximação. No entanto, com Luiz Inácio Lula da Silva à frente do governo brasileiro, a dinâmica pode ser mais complexa. Lula tem defendido uma política externa mais multilateral e menos alinhada exclusivamente aos Estados Unidos, buscando diversificar as parcerias internacionais do Brasil.
Em resumo, o futuro das relações Brasil e Estados Unidos sob a nova administração Trump dependerá de um equilíbrio delicado entre desafios e oportunidades. Enquanto as questões comerciais e ambientais prometem ser pontos de atrito, há potencial para cooperação em áreas de interesse mútuo, como energia, tecnologia e investimentos estratégicos. Para o Brasil, o desafio será posicionar-se como um parceiro confiável, preservando sua soberania e interesses nacionais, enquanto aproveita as oportunidades que a maior economia do mundo pode oferecer.