Por: Gabriel Montenegro, professor e psicólogo
No Dia da Consciência Negra, o Brasil se vê convidado a refletir sobre os caminhos de uma história marcada pela exclusão, (em 2024 de maneira inédita do feriado em esfera nacional) mas também pela resistência e pela força de um povo. Em um mundo que insiste em dividir, rotular e excluir, o exercício da empatia emerge como uma das armas mais poderosas para combater as injustiças que ainda persistem. “Empatia é revolução.” Essa frase ecoa na música Principia, do rapper Emicida, um hino que nos lembra de que os laços humanos podem transcender as barreiras impostas pela sociedade. A letra provoca: “Se a dor é inevitável, que a gente escolha senti-la junto”, ressoando a ideia de que não é necessário viver a opressão para compreender que ela existe e machuca.
Racismo, machismo, homofobia, xenofobia, intolerância religiosa e tantas outras formas de opressão nos cercam diariamente. É possível não ser negro e ainda assim reconhecer que o racismo é um crime brutal, que impede sonhos e mata esperanças. É possível não ser mulher e enxergar que a luta contra o machismo é urgente, que uma mãe solteira não deveria ser julgada enquanto o pai ausente é esquecido. É possível não ser LGBTQIA+ e entender que ninguém deveria temer por sua vida ao andar pelas ruas. Mas para isso, é preciso abrir os olhos para além do próprio umbigo. É preciso enxergar no outro a humanidade que compartilhamos. É essa mensagem que pulsa em cada verso de Principia, como quando Emicida canta: “Por nós, eu piso firme e sigo, isso é maior do que eu”. Ele nos lembra que a construção de um mundo mais justo exige coragem e ação coletiva.
O Dia da Consciência Negra é uma oportunidade para lembrar que o racismo não se resume a palavras ofensivas ou ações explícitas de discriminação. Ele está nos olhares de reprovação, nas oportunidades negadas, nas vidas ceifadas pela violência. Está na estrutura de uma sociedade que ainda carrega as marcas de um passado escravocrata e que, muitas vezes, prefere ignorá-las. Empatia não é sobre carregar as dores alheias como uma experiência própria, mas sobre compreender que essas dores não deveriam existir. É saber que não importa se você não é negro, mulher, gay ou estrangeiro: a luta contra o ódio é de todos nós. Como diz Emicida, “O futuro é o afeto que a gente espalha na batalha”.
Neste 20 de novembro eu e você podemos nos lembrar que o caminho para a justiça começa com a empatia. Que a consciência negra não seja apenas um dia no calendário, mas um compromisso diário com a igualdade, o respeito e a dignidade de todos. Afinal, como diz a música, “Vem cá, não é só sobre você”. É sobre todos nós.