Por: Aldiéres Silva
Após 96 edições enfim uma produção 100% nacional foi laureada com o prêmio mais sofisticado do cinema internacional. O país já ganhou a cobiçada estatueta em coproduções internacionais envolvendo produções europeias, estadunidenses e até mesmo latina. Ganha o cinema nacional com esse reconhecimento inédito e principalmente o grupo de mídia brasileiro que esteve por trás na produção do mesmo.
A estreia do Brasil na maior premiação do cinema mundial ocorreu em 1945, quando a composição “Rio de Janeiro”, do brasileiro Ary Barroso, disputou a estatueta de Melhor Canção Original pelo filme estadunidense Brazil. Em 1960, o drama ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro – gravado no Brasil, com atores brasileiros e falado em português – venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional, mas representando a França, não o Brasil. Já em 1963, o país teve seu próprio representante entre os melhores filmes estrangeiros do ano com a obra O Pagador de Promessas. A coprodução brasileira Raoni, que mostra a vida do líder indígena brasileiro Raoni Metuktire, disputou a categoria de Melhor Documentário em 1979, sem indicados brasileiros.
Três anos depois, o Brasil voltou a marcar presença na categoria de Melhor Documentário, dessa vez, a brasileira Tetê Vasconcellos concorreu por seu trabalho no documentário estadunidense El Salvador: Another Vietnam. Em 1986, a coprodução brasileira O Beijo da Mulher-Aranha recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Diretor para o argentino naturalizado brasileiro Héctor Babenco.
Nos anos 1990, três representantes brasileiros disputaram a estatueta de Melhor Filme Internacional: O Quatrilho (em 1996), O Que É Isso, Companheiro? (em 1998) e o aclamado Central do Brasil (em 1999) que foi o divisor de águas e que antes de ainda estou aqui foi o que teve chances reais de levar a premiação. Curiosamente também foi dirigido por Salles, porém sucumbiu a belíssima produção italiana La Vita è Bella do ator e cineasta italiano Roberto Benini. Central Station (título em inglês) recebeu ainda uma indicação de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro.
Em 2001, o cinema brasileiro foi indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em Live-Action com Uma História de Futebol. Em 2004, uma surpresa: Cidade de Deus, ignorado como Melhor Filme Internacional no ano anterior, recebeu quatro indicações, entre elas: Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Neste mesmo ano, o brasileiro Carlos Saldanha foi indicado na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação com o curta estadunidense Gone Nutty (2003). No ano seguinte, a coprodução Diários de Motocicleta disputou em duas categorias, e, apesar de nenhum recipiente ter sido brasileiro, a obra foi dirigida pelo carioca Walter Salles (o mesmo responsável por Central do Brasil e Ainda Estou Aqui).
Na década de 2010, duas coproduções brasileiras não-ficcionais, que falam sobre artistas brasileiros, concorreram como Melhor Documentário: Lixo Extraordinário (2011), sobre o artista plástico paulista Vik Muniz e O Sal da Terra (2015), sobre o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado. Esta última contou com o brasileiro Juliano Salgado entre os indicados. Em 2012, a dupla de brasileiros Sérgio Mendes e Carlinhos Brown disputaram o prêmio de Melhor Canção Original com a composição “Real in Rio” para a animação estadunidense Rio. Na edição do Oscar 2016, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, foi nomeado a Melhor Filme de Animação, tornando-se a primeira produção brasileira indicada nesta categoria. Já em 2018, a animação estadunidense Ferdinand, dirigida por Saldanha, levou uma indicação a Melhor Animação, no mesmo ano em que a coprodução envolvendo vários países, Me Chame pelo Seu Nome, foi indicada em quatro categorias em que nenhum brasileiro figurava entre os nomeados.
Em 2020, Democracia em Vertigem, de Petra Costa e Tiago Pavan, foi indicado na categoria de Melhor Documentário. Dois anos depois, o brasileiro Pedro Kos esteve entre os indicados a Melhor Documentário de Curta-Metragem com o filme estadunidense Lead Me Home. Por fim, em 2025, Ainda Estou Aqui foi indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres. Torres recebeu a sua primeira indicação ao Oscar, repetindo o feito da mãe, Fernanda Montenegro, também com um filme de Walter Salles.
O cinema brasileiro no decorrer do tempo ganhou corpo. As premiações cinematográficas não resumem-se apenas ao Oscar. O Globo de Ouro é uma prévia dessa premiação porém BAFTA do Reino Unido, Palma de Ouro do Festival de Cannes, Urso de Ouro do festival de Berlim, Festival de Veneza e o festival de Gramado servem como preparativos para chegar ao patamar que chegou-se no início da madrugada no Brasil, que coincidentemente calhou em ser um período festivo em torno do carnaval e a estação mais escaldante do ano, o verão. Nada mais brasileiro para chegar-se ao êxtase. Se estivesse vivo o grande crítico de cinema Rubens Ewald Filho estaria feliz com a consagração que ocorreu ontem. O Brasil aprendeu a produzir filmes que agradam a academia de Hollywood. Não adianta querer inovar. É falar a língua deles com profissionalismo que chegaria esse momento tão esperado. Espera-se que o público comece a valorizar as produções nacionais pelo conteúdo em si após esse feito inédito. Em 1986 a Argentina ganhou o Oscar com La historia oficial e em 2004 com El secreto de sus ojos. Já em 2018 o Chile foi premiado com Una mujer fantástica e no ano seguinte o México levou com a produção Roma. Agora I’m Still Here (título em inglês) faz o Brasil figurar no seleto grupo de países latino americanos que detém êxito no exigente, burocrático e detalhista academia do Oscar.
O enredo que se passa o filme envolve muitos conflitos políticos que muitos países sul-americanos vivenciaram. Regimes ditatoriais que destroçaram sociedades. Levando em consideração a alternância de poder recente que ocorreu nos Estados Unidos e o viés de hollywood sempre tender ao centro esquerdismo, principalmente com as características presentes na personalidade e perfil do atual governo local talvez isso tenha influenciado e sensibilizado os votantes em escolher a produção brasileira. O grupo de mídia brasileiro que produziu Ainda Estou Aqui fortalece-se no cenário internacional. O mesmo grupo já possui algumas vitórias no prêmio Emmy International com suas novelas, programas jornalísticos e etc. A grande vitoriosa foi essa empresa de comunicação.
Espero profundamente que as universidade de cinema e audiovisual popularizem-se após o feito inédito do domingo. Na região temos o CEUNSP de salto que tem curso de cinema. As artes cênicas saem fortalecidas. Que hajam mais espaços e produções. Não apenas cinema mas o teatro também precisa chegar a sua valorização devida. Parabéns aos envolvidos. Esperamos que novos rumos surjam. Resta ao país agora vencer algum prêmio Nobel. Esse momento chegará um dia. Talvez no final desse ano, no próximo ou daqui algumas décadas. Tudo tem seu tempo! Ansiedade e Cobranças desnecessária só atrapalham. As construtivas geram resultados porém as aleatórias é bom nem perder tempo.