A adolescência é uma fase de muitas transformações físicas e emocionais e, manter a autoconfiança é um dos principais desafios encontrados pelos jovens. Em um país onde 92% das pessoas entre 9 e 17 anos têm acesso à internet, de acordo com pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), as redes sociais, com seus padrões de beleza muitas vezes irreais, ampliam ainda mais essa pressão e insegurança.
Na tentativa de alcançar esses padrões, as cirurgias plásticas surgem como uma solução para muitos para se encaixarem neste perfil. O Brasil está entre os países com o maior número de procedimentos no mundo e, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 6,6% das cirurgias são realizadas em jovens de até 18 anos.
Entretanto, segundo o cirurgião plástico Delmo Sakabe a escolha por uma cirurgia plástica deve ser pensada com muita cautela, principalmente na fase da adolescência, visto que muitos jovens enfrentam problemas com a autoimagem, que podem até se agravar com uma cirurgia desnecessária.
“Exceto pela otoplastia, cirurgia de correção das orelhas, que pode ser indicada a partir dos seis anos de idade, para outros procedimentos mais comuns, como os de mama e nariz, por exemplo, é recomendável esperar no mínimo até o adolescente completar 16 anos, para que o corpo esteja completamente formado”, explica o especialista.
Segundo o médico, para evitar futuros arrependimentos e frustrações, é importante avaliar o quanto o ‘problema’ está realmente afetando a saúde física e mental do paciente e se não há distorção de imagem, algo recorrente na adolescência.
“É comum que jovens apareçam com fotos editadas por filtros do Instagram como referência do que desejam. Hoje, muitas pessoas veem as redes sociais como a maior verdade do mundo, mas sabemos que muitas dessas imagens são tratadas ou têm filtros, e a pessoa se vê de uma maneira que não corresponde à realidade”, explica.
Entre as cirurgias mais procuradas por adolescentes, segundo o cirurgião, estão a otoplastia (correção de orelhas), rinoplastia (nariz), mamoplastia e mastopexia (aumento/redução e elevação das mamas), além da ginecomastia (redução da mama masculina).
Dr. Delmo Sakabe destaca a importância de avaliar cada caso com cuidado, buscando compreender os transtornos que a condição pode estar causando no adolescente, como bullying ou mudanças comportamentais significativas. “Antes de decidir se é caso cirúrgico ou não, realizo várias consultas pré-operatórias, bastante detalhadas, para entender a real necessidade do paciente. Isso ajuda a prevenir arrependimentos futuros e a compreender as expectativas do adolescente”, afirma.
Ele conta que, inclusive, já recusou realizar procedimentos por perceber distorção de imagem no jovem. “Uma vez, atendi um adolescente que queria mudar o nariz, embora ele tivesse proporções faciais perfeitas. Ele estava obcecado por uma mudança que, na verdade, chamaria mais atenção e de forma negativa. Anos depois, ele voltou no consultório, junto com sua mãe, para me agradecer por não ter aceito a cirurgia”, relata.
Quando a cirurgia é recomendada?
Por outro lado, de acordo com o especialista, existem procedimentos que podem, de fato, trazer melhorias significativas à vida dos adolescentes. É o caso de Maria Júlia Zocal Pires, de 16 anos, que passou por uma cirurgia de mastopexia, sem a implantação de prótese.
De acordo com sua mãe, a assistente social Sueli Aparecida Zocal, a adolescente teve um desenvolvimento muito rápido, o que fez com que suas mamas ficassem muito grandes e com um aspecto como se ela já tivesse amamentado.
“Júlia sempre foi uma menina ativa e muito comunicativa, mas ao entrar na adolescência, por volta dos 14 anos, mudou bastante seu comportamento. Ela passou a ficar a maior parte do tempo trancada no quarto, com vergonha, inclusive de mim. Nunca mais entrou em uma piscina ou algo do tipo”, conta Sueli.
Foi então que Sueli começou a se informar sobre cirurgia de redução das mamas e consultou um cirurgião de sua confiança, que recomendou esperar mais alguns anos antes de realizar o procedimento. Durante dois anos, Júlia passou por acompanhamento psicológico, até que, em agosto de 2024, realizou o procedimento.
Apesar de recente, Sueli afirma já observar pequenas mudanças no comportamento da filha, especialmente na autoestima. “Ela já aceitou sair em família, e se Deus quiser, vai ficar ainda melhor”, conclui.