Desde a infância, o cantor e compositor itapetiningano Márcio Dabliueme tem se dedicado à música. Usando um socador de limão como microfone improvisado e dublando sucessos dos Menudos e Dominó, Dabliueme encontrou seu primeiro contato com o universo musical. “Eu sempre amei a relação com discos e gravadores”, lembra ele. “Estudei violão de forma autodidata em São Bernardo do Campo e, desde então, minha jornada musical começou.”
No início da carreira, Dabliueme enfrentou uma série de desafios. Nos anos 90, quando começou a fazer rap, o gênero era frequentemente associado a estereótipos negativos. “Foi difícil, especialmente vindo da Vila Mazzei, um bairro que na época não tinha asfalto nem iluminação pública. Tinha que voltar a pé de eventos e atividades depois das 18h”, conta. Além disso, sua cidade natal, Itapetininga, era conservadora, e ele teve que se autoafirmar como artista mesmo quando as portas se fechavam.
Sua formação musical e as influências de sua juventude foram importantes para a diversidade de estilos em seu trabalho atual. “Sem internet, minha forma de aprender era ouvir fitas e CDs piratas, e prestar atenção em cada detalhe. A presença de discos e fitas dos meus avós me ajudou a construir minha base musical”, explica Dabliueme. Influenciado por artistas como Chico Science, Nação Zumbi, Raul Seixas e Nelson Gonçalves, ele absorveu uma ampla gama de estilos musicais.
Para os jovens músicos que o veem como inspiração, o cantor deixa um conselho: “Não parem nunca! Se dediquem, estudem música não só na academia, mas também em livros, ouvindo discos e vendo filmes. Mantenham-se longe da inteligência artificial e busquem a essência da música.”
Seu novo projeto, que visa lançar uma música por semana gravada ao vivo no SESC Sorocaba, nasceu após uma apresentação no festival Plataforma em São Roque. A curadoria do SESC Sorocaba ficou impressionada e convidou Dabliueme para gravar um espetáculo no teatro. “Foi uma oportunidade de comemorar meus 27 anos de carreira”, diz ele.
A diversidade de estilos presentes em suas apresentações, que vão de Jazz a Blues, Maracatu, Reggae, Samba e Hip Hop, reflete a vida e as influências dos músicos da Original Fyaband, que compartilham uma profunda conexão com esses gêneros. “A banda e eu vivemos esses estilos diariamente. Embora o rap e o hip hop sejam bastante associados a mim, o samba e o reggae também fazem parte da nossa vida desde sempre”, explica o cantor.
Entre as faixas que têm um significado especial para ele estão “Na Cabeça”, em parceria com o artista Di Melo, e “Vamos Brindar o Cansaço”, uma homenagem ao sambista Candeia. “Tenho também a canção ‘Estou Guardando o Que Há de Bom em Mim pra Mostrar pra João Donato’. Foi um momento especial conseguir mostrar essa música para João Donato antes de sua partida”, recorda.
A recepção do público às gravações semanais tem sido positiva e surpreendente. “Lançamos uma faixa inédita chamada ‘Te Amo Gostosa’, um samba que pegou os fãs de surpresa. Ver um número significativo de acessos orgânicos para um artista independente é gratificante”, conclui Dabliueme.