Por: Aldiéres Silva
O cinema brasileiro foi laureado no último domingo (5/1) com a premiação da atriz Fernanda Torres no Globo de Ouro. No ano de 1999 sua mãe, Fernanda Montenegro competiu na mesma categoria porém não obteve êxito. Em contrapartida há 26 anos o clássico Central do Brasil conquistou o prêmio como melhor filme estrangeiro na celebração americana, algo que não foi possível com Ainda Estou Aqui em 2025.
Walter Salles é um cineasta que sabe retratar em seu roteiro e direção a essência da sociedade brasileira e o próprio país. Foge do estereótipo elitista que desde a década de 1970 a televisão brasileira insiste em propagar às massas, destoando assim a realidade presente no cotidiano de todos. Em décadas passadas muitos tinham crises de identidades oriundas dessas incoerências. Central do Brasil conseguiu retratar a ausência estatal com um enredo rico em detalhes e uma fotografia brilhante, característico do cinema europeu. No Oscar de mesmo ano o Italiano La Vita è Bella (A vida é bela) que contou com a direção do cineasta Roberto Benini emocionou a academia do prêmio mais renomado de hollywood. Para quem não recorda o roteiro foi baseado na segunda guerra mundial (O cinema europeu possui essa característica). Fernanda Montenegro até tentou e participou de entrevistas na TV americana para vender sua imagem, talento e do filme ao qual foi protagonista mas não foi suficiente, mesmo sendo entrevistada pelo icônico David Letterman e o seu talk show Late Show with David Letterman veiculado pela CBS de Nova Iorque. Na ocasião a laureada foi a atriz Gwyneth Paltrow.
Houveram outras oportunidades de o cinema brasileiro concorrer ao Oscar. Depois do feito de Central Station (Nome em inglês vendido comercialmente no mercado internacional de Central do Brasil) esse filme virou um clássico e muitos afirmam que foi uma perda que resultou em bons legados. Anos depois Montenegro ganhou o EMMY (Prêmio máximo de produções televisivas globais) de melhor atriz devido sua atuação em um seriado televisivo.
Uma parcela da sociedade brasileira por uma série de motivos não prestigia o cinema nacional. Sabendo garimpar o mesmo possui suas qualidades (depende da ótica do espectador). O nível dessas produções possuem características mais cults inspirados no cinema europeu. Desde os milímetros das câmeras, fotografia, iluminação, roteiro, direção, atuações dos atores e atrizes, trilha sonora, montagens (Algo muito importante e que dita a sequência das cenas após gravadas. Na televisão é chamada de edição mas no cinema é chamado de montagem) e referências.
Vale destacar e questionar se enfim em 2025 o país levará a estatueta com uma produção 100% nacional no Oscar? Argentina, Chile e México já conquistaram. Há chances e vamos aguardar para ver. O Brasil já ganhou o Oscar porém através de co produções com outras nações. Orfeu Verdi na década de 1950, O Beijo da Mulher Aranha na década de 1980 e por fim nos anos 2000 com Diários de Motocicleta.
O que pode representar essa vitória de domingo? Seguido do inédito Oscar (Conforme descrito em parágrafo anterior) é possível haver incentivos e fomentações para o surgimento de novos atores, atrizes, cineastas, roteiristas e toda a cadeia cinematográfica. Essa área no Brasil continua elitista… Talvez com mais acesso seja possível surgimento e descoberta de novos artistas. Temos muitos atores, atrizes, cineastas e documentaristas brilhantes pena que não muito valorizados ou divulgados. O Brasil além de possuir como principal premiação no cinema nacional, o Festival de Gramado no Rio Grande do Sul, possui prestígio e reconhecimento com suas produções o qual já tiveram notoriedade com o BAFTA (Reino Unido), Palma de Ouro – Festival de Cannes (França) (Vencido em 1986 por Fernanda Torres)…
O Oscar e o Globo de Ouro (Ambos dos EUA) ainda necessitam encantá-los. Falar a língua e produzir trabalhos com estéticas que agradem os responsáveis por elegerem as produções (A famosa academia). O legado de Central do Brasil refletiu-se domingo e pode ser ainda maior no Oscar 2025… Vamos aguardar!