Por: Gabriel Montenegro, professor e psicólogo.
A proposta de emenda à Constituição, que visa redefinir a jornada de trabalho para um modelo 6×1 – seis dias trabalhados e um de descanso –, é uma questão urgente e relevante, mas também controversa. Para muitos, a ideia de manter ou até ampliar a carga horária dos trabalhadores soa como mais uma derrota, eu particularmente considero como semelhante à histórica goleada de 7×1 sofrida pela seleção brasileira em 2014 (coincidência numérica interessante). A estrutura de trabalho, ainda exaustiva e mal-adaptada às necessidades modernas, impõe desafios que afetam diretamente a saúde física, mental e social do trabalhador. Esse sistema não só ignora os direitos básicos de descanso e recuperação, mas também representa um retrocesso ao trabalhador brasileiro. Não surpreende, portanto, que muitos trabalhadores sintam-se desmotivados e exaustos em uma rotina que afeta tanto a saúde física quanto a emocional. O argumento dos defensores da manutenção da jornada 6×1 é, de fato, problemático. Os deputados contrários à redução dessa jornada trabalham, em média, três dias por semana e recebem salários muito acima do mínimo. Essa diferença expõe uma incoerência gritante: enquanto os trabalhadores enfrentam uma semana exaustiva, a decisão final sobre o ritmo de trabalho cabe a parlamentares cujas realidades estão distantes das dificuldades enfrentadas pela maioria da população. Estudos têm mostrado que empregos prejudiciais à saúde mental afetam o bem-estar geral mais do que a própria ausência de emprego.
Em um ambiente de trabalho onde o descanso é negligenciado, aumentam-se os riscos de transtornos como ansiedade e depressão, além de reduzir a capacidade do trabalhador de se integrar à vida social e familiar. Isso sem mencionar que, para atividades que exigem atenção e cuidado, a produtividade e qualidade do trabalho são severamente comprometidas quando o corpo e a mente estão sobrecarregados. A ausência de um descanso semanal adequado, como apontado pela neurologista Letícia Soster, pode desencadear prejuízos irreversíveis, como perda de memória, alterações emocionais e doenças neurodegenerativas. A jornada reduzida pode, ao contrário do que se argumenta, otimizar as rotinas de trabalho e fortalecer a saúde física e emocional do trabalhador. Ao permitir que mais pessoas entrem no mercado de trabalho em regimes de rodízio, oferece-se um equilíbrio saudável entre vida pessoal e trabalho, potencializando não só a satisfação, mas também a produtividade. Portanto, lutar por uma jornada de trabalho mais humanizada é essencial. Como sociedade, precisamos priorizar a saúde física e mental do trabalhador, reconhecer a importância do descanso e valorizar um modelo de trabalho que permita o desenvolvimento pessoal e social. Afinal, é imprescindível evitar mais um “7×1” que não apenas marca, mas penaliza a todos nós.
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