Por: Gabriel Montenegro, professor e psicólogo
Começo o texto de hoje lembrando que no último sábado celebramos o Dia Internacional das Mulheres, uma data que nos recorda a importância de valorizar aquelas que, de fato, são donas do mundo. Mulheres merecem reconhecimento constante, não apenas em datas especiais. Sou privilegiado por trabalhar ao lado de mulheres competentes e ter compartilhado parte significativa da minha vida ao lado de uma mulher incrivelmente maravilhosa (aqui eu mando um beijo a minha ex-esposa). E hoje, ao refletir sobre Psicologia e Educação, trago à tona o conceito de antropomorfismo, iniciando por mais uma mulher essencial na minha vida: minha mãe.
Costumo dizer que minha mãe é uma verdadeira “mãe ursa”. Esse termo é considerado um antropomorfismo, um termo derivado da psicologia, refere-se ao hábito humano de atribuir características, emoções e intenções humanas a seres não humanos, sejam animais ou objetos. Na prática, quando chamamos uma mãe de “mãe ursa”, projetamos nela características protetoras e afetuosas típicas dessa espécie animal, intensificando emocionalmente nosso vínculo afetivo.
Quando saí de casa, minha mãe imediatamente buscou conforto para lidar com a chamada síndrome do ninho vazio ao trazer cães para dentro de casa. É fascinante perceber como animais podem preencher lacunas emocionais, promovendo acolhimento e companhia genuína, permitindo às pessoas enfrentarem mudanças importantes com mais leveza.
Inclusive, lembro-me da curiosa história de um certo homem que, todos os dias, via pela janela o gato do vizinho, que o visitava com um miado mais estridente que o habitual e que tinha uma pinta/mancha exatamente igual ao do amor da sua vida. Além de ter sido abandonado, esse homem precisava enfrentar o doloroso fato de que aquela pessoa havia deixado de amá-lo. Assim, projetava no gato características e emoções humanas, sentindo no animal uma forma de amenizar a ausência e reconectar-se emocionalmente ao afeto perdido.
Sendo assim, não por acaso, muitos “pais de pets” preferem a companhia dos animais à criação de filhos. Humanos frequentemente frustram expectativas de pais que depositam em seus descendentes sonhos não realizados, enquanto os animais oferecem amor genuíno, instintivo e sem cobranças. É um apego saudável, legítimo, e sofrer pela perda ou criar vínculos profundos com animais é absolutamente natural, parte inerente da sensibilidade humana.
A psicologia explica que o apego emocional com pets pode ser tão forte quanto com humanos, e os animais suprem necessidades emocionais importantes, como sensação de pertencimento, afeto e segurança emocional. Estudos reforçam a ideia de que animais de estimação são capazes de aliviar solidão e promover bem-estar emocional significativo, muitas vezes ajudando pessoas a superarem episódios dolorosos ou grandes transições na vida.
Por isso, dedico este texto especialmente à minha mãe, leitora fiel dos meus escritos, em homenagem a ela e sua capacidade extraordinária de amar, seja eu como filho ou os pets, com o recado que enviei em um cartão de aniversário para ela lá na minha terra querida de Piracicaba, dizendo com amor: “Mãe é mínimo, mas é o possível! Obrigado por ter sido minha mãe, independente dos pormenores das mães, você está entre as maiores”.
Referências: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/03/10/animal-de-estimacao-como-filho.htm