Por: Lais Gomes
No cenário político contemporâneo, o populismo, tem encontrado nas teorias da conspiração um terreno fértil para crescer e conquistar corações e mentes. Esta relação simbiótica é preocupante, não apenas pelo impacto sobre a confiança pública nas instituições, mas também pela ameaça que representa à própria essência da democracia representativa.
O populismo se define, em grande parte, pela retórica do “nós contra eles”: o povo puro e virtuoso contra as elites corruptas e distantes. Nesse contexto, as teorias da conspiração surgem como ferramentas ideais para reforçar esta narrativa. Histórias de cabalas secretas, manipulações globais e intenções maliciosas por parte de governos, empresas ou instituições internacionais são convenientemente moldadas para pintar as elites como vilãs absolutas. Ao mesmo tempo, apresentam os líderes populistas como os únicos defensores legítimos do povo.
Essa estratégia é particularmente eficaz em tempos de crise. Períodos de instabilidade econômica, pandemia ou mudanças sociais rápidas criam terreno fértil para o medo e a incerteza. As teorias da conspiração oferecem explicações aparentemente simples para questões complexas, canalizando frustrações em direção a inimigos concretos – reais ou imaginários. Esse artifício não apenas desvia a atenção de problemas estruturais mais profundos, mas também solidifica a base de apoio dos líderes populistas, criando um vínculo emocional com eleitores que se sentem traídos ou marginalizados pelo sistema.
Além disso, a disseminação de teorias da conspiração encontra um aliado poderoso no ecossistema digital. Redes sociais, blogs e aplicativos de mensagens privadas permitem que essas ideias se espalhem rapidamente, muitas vezes sem a mediação de verificadores de fatos ou instituições confiáveis. Essa dinâmica fragmenta a esfera pública e enfraquece o consenso sobre a verdade, o que é crucial para o funcionamento de uma democracia saudável. Quando cidadãos não conseguem concordar sequer sobre os fatos básicos, o diálogo político se torna inviável, abrindo espaço para a radicalização e o autoritarismo.
O impacto desse fenômeno sobre a democracia representativa é profundo. Ao deslegitimar instituições como parlamentos, tribunais e a imprensa, o populismo conspiratório mina os pilares que sustentam o sistema democrático. Quando eleitores acreditam que o processo eleitoral é fraudado, que a mídia está comprometida ou que decisões judiciais são parte de uma trama maior, o próprio conceito de governança compartilhada perde significado. Líderes populistas exploram essa desconfiança para concentrar poder, enfraquecendo mecanismos de controle e vigilância que deveriam limitar seus excessos.
No entanto, é importante destacar que o problema não é apenas o populismo em si, mas a maneira como ele explora a vulnerabilidade humana diante de narrativas simplistas e emocionais. Combatê-lo exige mais do que refutar teorias da conspiração individualmente; requer um esforço coordenado para reconstruir a confiança pública nas instituições e criar espaços para o diálogo genuíno. Educação midiática, transparência governamental e uma imprensa forte são peças fundamentais desse quebra-cabeça.
A democracia é, por natureza, um sistema imperfeito, mas que depende da pluralidade e da negociação constante para funcionar. Quando essas bases são corroídas por narrativas populistas sustentadas por teorias da conspiração, o que está em jogo não é apenas o futuro de governos ou líderes individuais, mas a própria ideia de um governo do povo, pelo povo e para o povo. Enfrentar essa ameaça exige vigilância constante – e, acima de tudo, coragem para defender a verdade em tempos de desinformação.