Por: Gabriel Montenegro, professor e psicólogo
O texto de hoje poderia tranquilamente ser um texto religioso, desses de meditações guiadas que existem. Porém aqui é uma coluna sobre psicologia e educação. Apesar da religião ser uma característica marcante de nossa sociedade, o texto tem conotações religiosas mas é sobre o ser humano e suas emoções. Inclusive eu o psicólogo/professor e escritor dessa coluna sou um ser humano e sinto as emoções citadas aqui e quero te ajudar como eu puder.
Hoje é quarta-feira de cinzas, essa data é um “semi-feriado” (visto que é ponto facultativo e muitos comércios escolhem abrir suas portas ou não), comemorado na primeira quarta-feira logo após a terça-feira de carnaval. Tudo tem origem numa tradição católica, que a partir da quarta-feira de cinzas começa a se contar a quaresma, então logo após as “festividades da carne”, o católico é convidado a se lembrar que veio do pó e ao pó voltará, por isso, se tornará cinzas. E a quaresma é uma período (de mais ou menos 40 dias) penitente que culmina com a celebração da páscoa, onde se comemora a ressureição de Jesus Cristo. Quanto simbolismo não? Apesar de ser quarta-feira de cinzas o dia aqui em Itapetininga, até está ensolarado, porém esse ano de fato o dia não está com um céu tão azul. Certo é que existem muitos dias e momentos cinzas em nossa vida, e quando vivemos esses momentos, pensar em sorrir ou colorir nossa vida, se torna um desafio. Muitos são os motivos que nos deixam cinzas, talvez ter que passar por uma situação constrangedora, receber uma notícias desesperadora, lembrar de traumas do passado, ver pessoas que mentiram sobre você para alcançar algum tipo de beneficio se beneficiando enquanto você luta para recuperar sua dignidade, a ausência de perdão, tanto em receber quanto em conseguir perdoar, a cegueira da mágoa que não te faz enxergar sua situação atual e tampouco condições futuras, o luto por um ente querido ou mesmo o fim de um relacionamento. Todas essas situações e muitas outras acinzentam nossa vida, retiram de nós a cor e o brilho nos olhos, e nos entregar para a culpa ou para a dor é quase que inevitável, sendo assim chegamos a um estágio chamado “estado depressivo” onde as nuances e circunstâncias nos abalam e a depressão nos sonda.
Depressão é uma doença emocional, que tem condição de machucar sem nenhum arranhão visível, mas com muitos hematomas invisíveis ou emocionais, nos faz perder o brilho da jornada. A dor da depressão é tão forte que nosso corpo não tem forças para reagir e nos entregamos como se nenhuma solução fosse possível. Mas como existem os paralelos e como a maioria das doenças, depressão tem tratamento e tem cura também. Não necessariamente precisa ser um estágio penitente como viver a quaresma para o católico, mas um processo de autoconhecimento e autodescoberta. Quando estamos num estado depressivo, ou em depressão não enxergamos pessoas e situações coloridas bem perto de nós, para tanto é preciso buscar auxílio, buscar ajuda com aquilo que temos, reconhecer quem somos e que coisas boas também já vivemos. Procurar ajuda profissional da psicologia e se preciso com auxílio da psiquiatria também, afinal sempre é possível vivenciar a experiência da ressureição após uma perca significativa, sempre depois da chuva vem o sol e depois de dias frios vem dias quentes. Nada fica igual se percebemos que novas possibilidades estão bem perto e se tudo vem de nós, a solução também pode vir. Aos que tem fé, que se apeguem a isso também. Mas que de qualquer maneira, a cinza dor tem jeito e os dias coloridos são mais que bem vindos. Fique bem sempre!
