“Se precisar, peça ajuda!”, este é o tema da campanha Setembro Amarelo de 2024. A iniciativa busca, mais uma vez, mobilizar a sociedade na luta contra o suicídio, que continua a ser uma das principais causas de morte evitáveis no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é uma questão de saúde pública global, com mais de 700 mil mortes por ano, número que pode ultrapassar 1 milhão, segundo estimativas, levando em consideração as subnotificações. O mês é escolhido para a campanha anual porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Alan Campos Luciano, psiquiatra e pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, esclarece o tema.
O Setembro Amarelo tem a função de desestigmatizar as questões em torno do tema da saúde mental. “A pessoa que está sofrendo tem muita dificuldade de expor esse sofrimento ainda nos dias de hoje por esse estigma, por crenças pessoais, de que não deveria estar sentindo isso. A ideia do movimento em setembro é fazer com que as pessoas sintam confiança na sociedade e se sintam à vontade para se comunicar sobre suas questões e daí conseguir ter a chance de receber ajuda”, afirma.
O pesquisador explica que o sofrimento normalmente fica escondido com o paciente e é percebido pelo especialista indiretamente, através de relatos sobre outras questões pessoais.
“Normalmente é mais comum isso ficar velado, o pedido de ajuda vem para quadros de depressão, de tristeza, de angústia, perda de sentido, de vontade de viver, e por isso é importante inclusive para os profissionais de saúde sempre estarem atentos aos sinais. É importante construir um canal de comunicação para abrir o tema, conseguir falar sobre isso, investigar e a partir daí ajudar o paciente. Vale lembrar também que, em algumas situações, principalmente nos mais jovens, às vezes é menos explícito ainda, ou seja, vale a pena a gente ficar atento para alterações de comportamento, para isolamento, retraimento social, diminuição de atividades, tudo isso pode ser sinal de alerta para algum tipo de sofrimento que pode ser associado a uma ideia de suicídio”, alerta.
Um dos mitos sociais difundidos no cenário brasileiro é o de que “quem fala não faz”, uma crença que supõe que as pessoas que denunciam seu sofrimento e expõem sua não vontade de viver querem apenas chamar atenção e não representam nenhum perigo real contra a própria vida. O professor contesta esse pensamento.
“Infelizmente, é muito comum a recidiva, ou seja, as tentativas de suicídio após a primeira vez. E, mais do que isso, o maior preditor de suicídio é a tentativa prévia. Existe um mito na nossa sociedade de que “quem fala não faz” ou não vai fazer de novo. Temos que desmistificar essa crença e ficar muito atentos, porque infelizmente o que acontece é que o risco vai aumentando conforme as novas tentativas acontecem, infelizmente, ainda mais se mal conduzido e se não há um suporte adequado”, comenta.
O professor aponta que é necessário enfatizar os cuidados voltados para os jovens que, atualmente, são o grupo mais afetado pelo sofrimento mental. Segundo dados da Fiocruz, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% por ano no Brasil entre 2011 a 2022, enquanto as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período.
“Os jovens fazem parte de uma situação muito específica, inclusive porque o suicídio nessa população acaba sendo a terceira causa de morte mais recorrente. Vivemos um momento em que algumas questões sociais são muito potencializadas pela tecnologia. Além disso, o jovem tem menos recursos emocionais, tem menos recursos de comunicação, por isso é importante que os parentes fiquem atentos e sempre tentem estimular uma conduta aberta de comunicação, de falar sobre o que pode estar incomodando, e no sinal de qualquer alteração comportamental, de qualquer evidência de sofrimento, novamente procurar ajuda profissional”, conclui.